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ESCRAVOS SEM SENHORES: ROMA

 O contexto de História antiga sendo desconstruída e recontada a partir de um novo olhar, tentando fugir um pouco da visão eurocêntrica proposta no Período Moderno, porém, isso não significa que devemos abandoná-la.

O estudo do passado nos dias atuais deve ser significativo, deve ajudar a entender questões atuais. A percepção das diferenças existentes entre o passado e o presente nos ajuda a perceber com indivíduos ativos no processo de construção da História. Talvez nunca o passado, ou a memória sobre o passado, tenha se alterado tão rapidamente. A História antiga perdeu sua primazia de inicio de toda a história humana, para tornarem-se apenas mais uma história, um dos vários caminhos que levam a contemporaneidade, não faz mais sentido dar prioridade a uma história regional.
A História científica é interessante porque, para pensar o passado, temos que nos pensar. Para ver e estabelecer diferenças, ou semelhanças, ou a igualdade, temos que definir o que somos, ou o que fomos num passado não tão remoto.

 

ESCRAVIDÃO ANTIGA E ESCRAVIDÃO MODERNA         

 

A escravidão é um conceito histórico, isto é, muda com o passar do tempo. O conceito de escravidão no Mundo Antigo é diferente do conceito de escravidão Moderna. Dentro do Mundo antigo havia outras formas de trabalho compulsório além da escravidão, em Roma, por exemplo, a escravidão não foi uma constante, sendo assim o conceito de escravidão deve ser sempre analisada tendo em vista um contexto determinado. Não podemos afirmar que havia um estatuto de escravidão dentro de um mesmo período, era diferente o conceito de escravidão dentro das cidades-estado gregas, ou até mesmo entre Roma e Atenas.
A noção mais comum de escravidão continua sendo de caráter legal, o escravo como uma propriedade, quase sempre estrangeiro, adquirido para ser pertencente a outro individuo. O proprietário deste escravo é dono de seu trabalho e de seu corpo, podendo submetê-lo a qualquer tipo de trabalho, castigo, ou até execução. Este é o conceito básico de escravo propriedade.

 

Escravidão mercadoria e integrado


Algumas condições foram necessárias para o desenvolvimento da escravidão. A principal é econômica: a difusão da escravidão está diretamente ligada ao desenvolvimento do comércio e ao crescimento e concentração de riquezas em algumas cidades-Estado mediterrâneas. Os escravos tornaram-se parte significativa da sociedade, perto de um terço, constituindo-se com a principal força de trabalho.
Monopólio das atividades agrícolas, artesanais e serviços domésticos. O escravo foi integrado à sociedade, não possuía direitos políticos, mas, não era marginalizado. Essa é uma diferença bem significante do escravo americano, outro fator de diferenciação é a ausência de um critério étnico racial na escravidão, tornando impossível apontar uma cultura escrava, pois não havia distinções claras entre etnias, ou mesmo se uma pessoa era escrava ou não.
Em Roma os escravos eram parte importante da sociedade, ao mesmo tempo em que estava excluído da comunidade política, não exercendo nenhuma influencia na esfera política e menos ainda, na cultural.

 

Conceito de trajetória


Havia inúmeras possibilidades de trajetória de um escravo em Roma. A escravidão pode ser entendida como um processo de morte simbólica, no qual o escravizado perde sua identidade original para se tornar quem o seu senhor determinar. A partir deste novo nascimento o escravizado inicia uma trajetória que o fim era a alforria.
Após a alforria o poderia se almejar a cidadania, o escravo é ressocializado dentro da sociedade que o escravizou, seguindo trajetórias determinadas, tanto pelos desejos e necessidades de seu dono como das próprias capacidades individuais. Vale salientar ainda que o liberto continue possuindo vínculos ao seu antigo proprietário, sejam elas de gratidão ou até mesmo de obrigação.

Trajetória rural

  Trate-se de uma trajetória com pouquíssimas opções, basicamente trabalhos na casa do senhor (domestico), na propriedade rural ou até mesmo nas minas, sendo este último o pior destino para um escravo.
De maneira geral a trajetória rural não daria muitas opções ao escravo que possivelmente fosse alforriado, na maioria das vezes este liberto continuava a serviço de seu antigo senhor para a própria sobrevivência.

Trajetória urbana

A trajetória urbana apresentava maiores possibilidades ao escravo, ele poderia cuidar dos negócios de seu senhor, atuar no comercio ou em serviços burocráticos, ofícios que poderiam lhe garantir a aquisição que alguma quantia, certas regalias ou até mesmo cargos de confiança.

Final de trajetória

O escravo se torna um liberto, mas carrega consigo a manha da escravidão.

 

O ESCRAVO LIBERTO EM ROMA

O escravo liberto adquire status de cidadão, várias fontes sugerem que não havia uma separação muito nítida entre o mundo escravo e o mundo livre. O escravo situava-se em um limbo, o elo com o seu senhor não era desfeito, o liberto continuava mantendo relações de dependência com o seu senhor. As maiorias dos escravos libertos restringiam-se ao convívio domestico privado e também com o contato com outros escravos de outras casas.
A existência de um grande numero de escravos tinha também conseqüências políticas, pois afetava diretamente as relações de poder entre os cidadãos livres. Possuir escravos tornou-se um meio de acumular riquezas, em homens e em força produtiva, homens podiam ser usados para proteger, para afirmar a própria riqueza de seus senhores, e até mesmo para coagir outros cidadãos. A riqueza extraordinária de certos membros da aristocracia senatoria romana só foi possível, e só é compreensível, pela presença maciça de escravos.

Tensões na época de Nero


Algumas questões eram bastante recorrentes em Roma sobre o tema alforria, havia a possibilidade de revoga da alforria por ingratidão do liberto com seu ex senhor. Outro ponto bastante singular era que o liberto transitava entre o domínio público e privado, chegando acumular grande fortuna.
Graus distintos de liberdade conferiam graus distintos de cidadania, libertos simbolizavam possibilidade de ascensão social. Havia uma grande demanda por reconhecimento, nesse sentido, a riqueza era símbolo da ascensão social. Para os alguns cidadãos romanos os libertos eram uma ameaça a ser combatida.    



 Continua...




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