PROGRESSO
E PRESERVAÇÃO
Fábio Luiz M. Sáboia
O século XXI é sem dúvida o
século do consumismo, neste cenário, tudo está ao alcance das mãos e nada é
duradouro. O poder aquisitivo dos homens
trouxe novas aspirações, novos desejos, novas tendências. Este consumismo
exarcebado se materializa tanto nas questões materiais quanto nas sociais. O
ser humano quer cada vez mais, não existem mais bens duráveis, tudo se torna obsoleto
em pouquíssimo tempo. Quem fica estático nesta sociedade globalizada acaba
desaparecendo, sendo assim os meios de produção também acompanham essa
velocidade, querem produzir mais e em menos tempo possível, transformam
florestas em pastos, aterram manguezais e bairros tornam-se cidades
cosmopolitas, com suas linhas verticais e fachadas espelhadas.
Costumo caminhar pela orla e faço isso pelo menos há dez
anos, nesse lapso de tempo acompanhei o crescimento de minha cidade. Vila Velha
em 2006 tinha um ar de tranqüilidade, em alguns locais chegava a ser bucólica,
realmente bem diferente do Rio de Janeiro que vivi até meus 24 anos. As ruas
eram tão limpas que poderia ser caracterizada como uma cidade fantasma, na
praia ao amanhecer observava os pescadores a puxando suas redes, passava as
tardes sob a sombra de uma castanheira e assistia o sol se por em um horizonte belíssimo.
Manifestações culturais aconteciam á todo momento, folia de reis, festa de São
Benedito, apresentações artísticas na praça do centro e ainda, a mata nativa de
Jacaranêma e a mata atlântica da Prainha de Vila Velha.
Hoje passados poucos dez anos, o poder econômico do
capitalismo reluz em Vila Velha, edifícios de 15, 20 e até 30 andares,
imponentes aos que chegam à cidade, luxo e conforto aos que podem pagar. A
praia que agora é sombreada a tarde pelos prédios, perdeu sua magia, hoje é
disputadas por centenas de pessoas que lotam suas areias, a restinga agoniza em
pequenos espaços cercados como uma doente terminal, ruas e avenidas pertencem
aos veículos que trafegam sempre com pressa. A população do subúrbio, ficou a
margem deste “boom” econômico, foi entregue a insegurança, a insalubridade, a
proibição de manifestar suas praticas cotidianas, vivem como prisioneiros da
perspectiva atual. A cidade cresce e os rios desaparecem, assim como a restinga
eles agonizam, são drenados pelas fazendas que precisam produzir mais alimentos
ou servem de deságüe para o esgoto e o que sobra mal dá pra matar a sede dessa
imensa população de Vila Velha.
A compreensão de preservação vai além de atitudes
sustentáveis, elas permeiam todas as atividades sociais dos indivíduos. A
natureza está diretamente ligada com o homem, à existência saudável de um
depende do outro. Homem e natureza possuem identidades interligadas, quando
alteramos os nossos espaços físicos também estamos alterando a nossa conexão
com este meio, dependendo de como ocorre essa mudança a conexão jamais será restabelecida.
Nesse sentido preservar o nosso espaço natural é também uma forma de
preservação social, preservação de identidade. O poder corrosivo do crescimento
econômico não pode ser maior do que a vontade de sobrevivência do ser humano.
2016
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