DIDÁTICA
O
termo didática foi instituído por Jan Amos
Komensky (Comenius) em sua obra Didática
Magna em 1657, e originalmente significa “arte de ensinar”. Durante séculos,
a didática foi entendida como técnicas e métodos de ensino, sendo a parte da
pedagogia que respondia somente por “como” ensinar. Os manuais de didática
traziam detalhes sobre como os professores deveriam se portar em sala de aula.
Tradicionalmente, os elementos da ação didática são: professor, aluno,
conteúdo, contexto e estratégias metodológicas.
Atualmente,
a didática é uma área da pedagogia, uma das matérias fundamentais na formação
dos professores, denominada por Libâneo (1990, p.25) como “teoria de ensino”
por investigar os fundamentos, as condições e as formas de realização do
ensino.
A
ela cabe converter objetivos sócio-politicos e pedagógicos em objetivos de
ensino, selecionar conteúdos e métodos em função desses objetivos, estabelecer
os vínculos entre o ensino e aprendizagem, tendo em vista o desenvolvimento das
capacidades mentais dos alunos. Libâneo (1990)
Um
olhar sobre a história recente da didática no Brasil mostra que, nos últimos 35
anos, esta tem sido questionada, sobretudo na década de 1980, quanto a sua
função na formação de educadores e a sua especificidade como área de
conhecimento.
1°
Encontro Nacional de Professores de Didática (1972)
Este
encontro foi realizado no período pós-1964, momento histórico caracterizado pelo esforço do Estado em
racionalizar o processo produtivo, tendo em vista a retomada do crescimento
econômico e do desenvolvimento industrial. O planejamento educacional é
considerado “área prioritária”, integrado ao Plano Nacional de Desenvolvimento.
Nesse período histórico, a educação passa a ser vista como fator de desenvolvimento e, portanto, como investimento individual e social.
A
orientação básica para o modelo educacional que vai fundamentar as reformas do
ensino superior e do ensino fundamental e médio centra-se na racionalização, na eficiência e na eficácia
do processo. Há neste período uma separação entre planejamento e execução. As questões fundamentais colocadas nesse
momento são captadas pelos intelectuais, em consonância com o contexto político-econômico
e educacional do período. Em síntese, nessa fase, a formação do professor passa
a fazer-se por meio de treinamentos, nos quais são transmitidos os instrumentos
técnicos necessários à aplicação do conhecimento cientifico. Neste contexto o
professor deve aprender conhecimentos e desenvolver competências e atitudes que
elaboram os cientistas básicos e aplicados, o professor limita-se a dominar as
rotinas de intervenção técnica, ser um executor de tarefas desenvolvidas por
setores superiores.
O
período caracteriza-se pela racionalização do processo de trabalho, tendo como
eixo central o controle do tempo, implicam a centralização do processo
produtivo em uma instância superior, externa ao
educador, o planejamento cuidadoso de todas as tarefas que deverão ser
executadas pelos profissionais de educação.
1°
Seminario A Didatica em Questão (1982)
Neste
encontro enfatiza-se a necessidade de formar educadores críticos e conscientes
do papel da educação na sociedade, estes profissionais devem ser comprometidos
som as camadas populares cada vez mais presentes no ambiente escolar e cedo
dele excluído. Se no primeiro encontro em (1972) buscava-se um professor
tecnicamente competente e comprometido com o programa político-econômico, neste
segundo (1982) a preocupação girava em torno da formação de um professor
politicamente comprometido com a transformação social.
Neste
período passa a ser fundamental a contextualização da pratica pedagógica na
busca por compreender a intima relação entre pratica escolar e estrutura
social. Valoriza-se os estudos do cotidiano escolar como fonte de conhecimento
para estabelecer uma relação entre “didática
pensada” e “didática vivida”.O movimento que inicialmente incluiu uma crítica e
uma denúncia ao caráter meramente instrumental da didática avançou em seguida
para a busca de alternativas e reconstrução do conhecimento, o desafio era
ultrapassar o nível da crítica apontando alternativas concretas para o ensino
fundamental e médio, e com os interesses e as necessidades práticas da maioria
da população.
Ao
longo da década de 1980, as produções teóricas dos educadores expressam
tentativas de dar conta da relação teoria-prática, de um lado encontram-se
grupos que discutem a importância de formar uma consciência crítica nos professores
para que eles coloquem em pratica as formas mais críticas de ensino,
articuladas aos interesses e as necessidades praticas das camadas populares, tendo
em vista garantir a permanência dessa camada popular na escola pública. São
propostas deste período a pedagogia
histórico-crítica, de Dermeval Saviani. É importante salientar que o período
em questão está vinculado a abertura social e política brasileira, período final
da ditadura militar.
Do
ponto de vista didático, o ensino orienta-se pelo eixo da transmissão-assimilaçao ativa dos conhecimentos, a pedagogia
histórico-crítica dos conteúdos valorizam a instrução enquanto domínio do saber
sistematizado e os meios de ensino, enquanto processo de desenvolvimento das
capacidades cognitivas dos alunos e viabilização da atividade de
transmissão-assimilação ativa de conhecimentos.
De
outro lado deste período encontram-se grupos mais radicais, voltados para a alteração
dos próprios processos de produção do conhecimento, das relações sociais. A pedagogia dos conflitos sociais, de
Oder José dos Santos, base teórica da pedagogia
da sistematização coletiva do conhecimento, proposta por Martins (2006), caminha
nesta direção. Propõe uma ênfase no outro e, num primeiro momento, enfatiza o
que o outro sabe, a pratica social dos envolvidos, chegando ao nível da
alteração das relações sociais. Desse ponto de vista, passa-se a discutir a
importância de romper com o eixo de transmissão-assimilação dos conteúdos,
ainda que críticos, buscando um processo de ensino que altere, na pratica, suas
relações básicas na direção da sistematização coletiva do conhecimento.
A dimensão política do ato
pedagógico (1985 / 1988)
É
um período marcado por intensa
participação social. Os movimentos sociais que ocorreram no Brasil no fim
da década de 1980 consolidaram novas formas de organização e mobilização que
repercutiam na escola. Os grupos sociais
se definem como classe e passa-se a dar ênfase à problemática política. O
professor em seu dia a dia e na sala de aula e na escola, reclamam da predeterminação do seu trabalho por instancias
superiores, querem participar, essa participação tem um caráter político.
A organização do trabalho na
escola (1989 / 1993)
É
marcado pela intensificação da quebra do sistema organizacional da escola. Os
movimentos sociais que consolidaram novas formas de organização e mobilização foram
desenvolvendo à revelia e alheios às instituições (sindicatos e partidos políticos),
e as formas tradicionais de organização do trabalho, chegando não só a mudanças
dessas instituições, como também, e sobretudo, a mudanças, ainda que embrionárias,
nas próprias relações de produção. Nesse processo, os grupos sociais se definem
como classes. Os professores já se
compreendem e se posicionam como trabalhadores assalariados; organizam-se em
sindicatos, participam de movimentos reivindicatórios. No interior da
organização escolar, fazem tentativas de alterar as relações sociais
estabelecidas, burlando normas e agindo de maneira diferente daquela que é
prescrita pela escola.
A produção e a
sistematização coletiva do conhecimento (1994 / 2000).
A
ênfase deste período é na problemática do aluno como sujeito. O aluno é concebido como um ser
historicamente situado, pertencente a uma determinada classe, portador de uma
pratica social com interesses próprios e de um conhecimento adquirido nessa
pratica, os quais não podem ser ignorados pela escola. Esse período se
relaciona com os anteriores através da problemática da interdisciplinaridade,
que continua sendo uma questão importante.
Ênfase na aprendizagem:
aprender a aprender (2001 até os dias atuais)
Este
movimento é do final do século XIX e inicio do XX, tendo surgido no movimento
da Escola Nova. Hoje volta a ser utilizada, mas, sim, no sujeito produtivo,
intelectualmente ativo, criativo, capaz de dominar os processos de aprender. A questão central é que o aluno aprenda a
aprender. Nesse momento histórico,
assistimos a reestruturação do capitalismo.
Fábio Luiz M. Saboia
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