A mostra estudantil
O
tema sustentabilidade está no cotidiano de nossas relações sociais, abrange
desde ações gigantescas que abordam aquecimento global, preservação de biomas, às
ações simples como separação seletiva de lixo. O relato que farei é de uma
experiência própria, ocorrida no ano de 1994 na cidade de São João de Meriti, na
Escola Estadual Governador Roberto Silveira, onde estudei dos quatro aos
quatorze anos.
Há
dezoito anos já era assunto da mídia o tema sustentabilidade, dois anos antes
foi realizado no Rio de Janeiro a Eco 92, evento que reuniu chefes de Estado e
pessoas ligadas ao meio ambiente sobre preservação e praticas sustentáveis. Lembro
que antes desse evento nunca tinha ouvido falar sobre preservação ambiental,
aquecimento global e outros assuntos que estavam em foco neste momento, pra
dizer a verdade, na época estes assuntos não chegavam a mim com a velocidade de
hoje. Eram tempos sem internet, tempos onde poucos possuíam telefones, tempos
em que a televisão representava 100% do que uma criança ou adolescente absorvia
do mundo.
De
fato no ano de 1994 minha escola organizou um evento inter classes chamado “Mostra
Estudantil”, era um evento aberto ao público, onde cada turma ficaria
responsável em trabalhar sob uma disciplina específica em sua turma. Neste
projeto multidisciplinar minha turma ficou responsável pelas Ciências Biológicas
(como eu queria História!), a turma foi subdividida em grupos, cada um com o
seu tema. Meu grupo ficou responsável pelo tema aquecimento global, nossa! Como
foi complicado trabalhar com este tema. Em 1994 a única forma de conseguir
material teórico sobre um determinado assunto era ir para uma biblioteca,
porém, assuntos tão recentes na época como aquecimento global eram muito, muito
difíceis de serem pesquisados em bibliotecas, outros meios de pesquisas eram
mais viáveis, como jornais, relatos de pais etc.
De
fato a pesquisa que realizei foi importantíssima para a minha compreensão de
natureza, preservação e aquecimento global. Bem mais do que obter uma nota, que
era o meu objetivo inicial, aquela pesquisa abriu meus olhos para o mundo ao
meu redor, descobri que eu também era um agente causador de desequilíbrio ambiental:
a geladeira da minha casa, o spray de cabelo de minha mãe, a fumaça do carro do
meu pai, tudo afetava o planeta. Eu tentava multiplicar isso pelo numero de
amigos que tinha, pelo numero de moradores da minha rua, pela população da
minha cidade, nossa, era assustador. Nesse momento tive uma percepção global de
mundo pela primeira vez.
O
fato é que a escola me propiciou a aquisição de um conhecimento único e
essencial para minha existência, tornou-me senhor de minhas ações, que poderiam
ser benéficas ou destrutivas, eu deveria escolher o que queria ser a partir de
então. Seguindo essa linha, meu trabalho tinha apenas uma pergunta: o que você
fará pelo seu planeta? Eu convidava as pessoas, em geral outros alunos que
visitavam as salas, a responderem a esta questão. Apenas um cartaz, uma frase,
e a partir das respostas ou dúvidas eu dava a explicação. Bem mais do que
orientar ou exemplificar eu tentava tornar meus questionadores agentes ativos
no processo de destruição ou preservação do planeta.
A
síntese que eu faço hoje aos 34 anos, um futuro professor e acima de tudo um
ser humano, que sobrevive graças à natureza que nos cerca é fundamentalmente resultado
do que me foi repassado aos doze anos, em uma atividade escolar, atividade esta
que me mostrou que posso ser agente ativo do mundo que me cerca, posso buscar
conhecimento e posso agir sobre o meu entorno. É isso que a escola propicia, nos
torna agentes ativos na sociedade, podendo interferir e sofrendo
interferências. A maior ferramenta a favor da sustentabilidade é o
conhecimento.
Fábio Luiz M. Saboia
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