TIRANIA
Por volta do ano de 560 a.C., em Atenas, Pisístrato,
um arconte, assume o poder, tornando-se tirano. Segundo Aristóteles, o processo
de tomada do poder de Pisístrato não envolveu violência, pois ele desarmou a
população. As medidas políticas que nos chegaram indicam que Pisistrato
regulamentou a questão agrária e foi responsável por grandes
obras públicas, como estradas, templos religiosos, aquedutos, esgotos, portos e
fortificações.
Em seu governo houve paz e prosperidade e Atenas atraiu
inúmeros artistas e poetas, passando a ser a maior referência cultural da
Grécia. Ele também distribuiu parte das terras pertencentes aos eupátridas, que
haviam adquirido várias pequenas propriedades em Atenas, para as camadas mais
simples da população.
Segundo Aristóteles, Pisístrato governou “mais como cidadão
do que tirano” e “mostrava-se humano, amável e indulgente com os erros”, “a
massa não sofreu nenhum prejuízo em seu governo”, “queria tudo governar segundo
as leis, sem se atribuir nenhum privilégio”.
Os antigos gregos apresentavam a tirania como a mais
degenerada das formas de governo, pois o tirano aparece somente quando o Estado
não pode mais se recuperar dos problemas.
A tirania sempre esteve presente na história grega. No livro
III da Política, Aristóteles escreveu que a tirania é o governo de um só para o
benefício do governante, a oligarquia para benefício dos ricos, a democracia
para benefício dos pobres.
De fato, o campo da política é uma arena de interesses
conflitantes e os pensadores gregos buscavam que o conflito fosse transcendido
em prol do Estado ideal, que proporcionaria boa vida para todos. Por isso,
Aristóteles não qualifica nenhuma das ações de Pisístrato como negativas, mas,
por outro lado, elogia o tirano.
A palavra “tirano”, associada a Pisístrato, perde sua
conotação negativa na medida em que este governante enfraqueceu o poder da
aristocracia local e trouxe empréstimos aos camponeses, pois parece justificar
o meio através dos fins.
Segundo o estudioso das relações de poder do mundo antigo,
Moses Finley, a escolha daqueles que governam dependem da estrutura da
sociedade que estiver sendo examinada (FINLEY, M. I. A Política no mundo
antigo. Rio de Janeiro, Zahar, 1985, p.20). Em uma sociedade onde os escravos
sustentavam a economia através de seu trabalho e que apenas eram considerados
cidadãos aqueles que se enquadravam em determinadas especificidades, ser tirano
era desfavorecer uma aristocracia detentora do poder.
Dentro da concepção cíclica de tempo dos gregos, a tirania
seria a “morte” do Estado. A origem do termo “tirano” não era negativa e
designava um senhor ou rei. Na realidade, o tirano não se dava este título, mas
o recebia de quem o considerava como tal. O tirano chamava-se de rei. Porém, na
Grécia antiga, o rei oficial provinha da aristocracia e exercia
concomitantemente a função de chefe de estado e sacerdote religioso, ao
contrário do tirano, que chegava ao poder através da usurpação e da violência e
que representava a elevação de um único homem acima das leis e do próprio
Estado.
Na opinião de alguns autores, o tirano representava o povo
contra a elite, enquanto para outros era o representante de alguma facção
oligárquica privada de poder político. Ainda existem aqueles que creem que a
tirania é oriunda de uma disputa entre setores privilegiados da sociedade, onde
estão incluídos os ricos comerciantes.
Existiam tiranos que somente eram chefes porque tomavam o
poder pela força e de maneira ilegítima, sem se constituírem, e por isso
recebiam desaprovação social. Algumas vezes, os tiranos foram magistrados que,
por serem ambiciosos, tomaram o poder central da Acrópole através de tropas
armadas.
Na Grécia, as tiranias foram numerosas com diferenças locais.
As realizações dos tiranos foram comparadas no século VI com as dos grandes
legisladores como Licurgo e Sólon por restabelecerem a ordem em períodos
conturbados. A origem do Estado tirânico vincula-se a épocas de grandes
transformações de ordem sociais e econômicas, ou seja, períodos instáveis; isso
explica sua efemeridade.
Os tiranos não usavam títulos ou modificavam leis. Eles
ocupavam o poder e lançavam pontos de apoio nas assembleias, tribunais e
conselhos, desenvolvendo uma “patrulha” por entre os gregos que participavam
destas instituições. Se desagradados, podiam ter atitudes violentas:
confiscavam terras, condenavam ao exílio e até assassinavam. Os tiranos
mantiveram as atividades religiosas exigidas do rei e construíam templos,
realizavam festas e procissões para o povo. As mais importantes realizações dos
tiranos gregos eram de ordem econômica e social: distribuíam terras,
emprestavam equipamentos e sementes, projetavam aquedutos, fontes, diques,
docas nos portos e teatros.
No entanto, existem relatos de que os tiranos das monarquias
helenísticas (a Grécia conquistada pelos macedônicos) eram homens arrogantes e
que aspiravam a um culto divino. Associam-se, a eles, castigos cruéis, até
mesmo parricídio e assassinato de membros da família próximos, bem como abusos
de mulheres e homens livres.
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